novembro 19, 2006

É um facto: as pessoas que vivem coisas boas que vale a pena preservar, são infinitamente mais vulneráveis que as outras.
Não é preciso ser-se feliz (um estado de alma relativo e cada vez mais vazio de significado, dada a miríade de pequenos problemas que nos infernizam o dia-a-dia e nos impedem de termos uma perspectiva global de nós mesmos e de irmos mais além no nosso próprio contentamento).
Basta prezar-se algo e ter-se medo de o perder.
Quem receia magoar os de quem gosta, perdê-los, decepcioná-los; quem faz questão de trazer a sua existência nas palminhas, a tratos de polé - quem se acha, afinal, com uma sorte danada, apesar de tudo -, acaba por ser um alvo fácil.
Ter amigos e família, ir a festas, fazer festas, fazer mais amigos, ter paixões e marido (ou mulher), ter paixão pelo marido (ou pela mulher), pelos amigos, pelos filhos e pela casa (pelo sofá branco da casa), pelo cão.
Ter a felicidade de ter pai e mãe vivos e disponíveis, e ter irmãos e primos.
Não ter medo nem vergonha de se mostrar como é, nem o que quer ou do que gosta, muito menos aquilo a que aspira e o que mais a incomoda.
Tudo isso lhe confere uma fragilidade imensa, de sopro de vela.
Amarmos outros, e amarmos a presença dos outros na nossa vida, é como ficarmos com o organismo a modos que indefeso, imunodeficiente e mais sujeito a dores, a incómodos, a doenças.
Porque ficamos à mercê das investidas virulentas de quem nada receia porque nada tem a perder.

Por "Escrito na Areia por Vieira do Mar", no blog www.controversamaresia.blogspot.com.
Muito, muito obrigado por teres expresso o que para mim, por vezes, se afigura inexprimivel...

novembro 10, 2006

Não me desiludiste. Nem sequer posso dizer que nunca esperei que tudo fosse assim... Acho que é o vazio que me transforma... Já não sou quem era.
Também nunca pensei conseguir reduzir-me a uma frase tão banal: já não sou quem era.
Que queria eu afinal? Sempre me haviam dito que as pessoas mudam com a idade. Tornam-se adultas.
Adultas. Que máscara e esconderijo para poupar os outros das nossas próprias inseguranças. Lá porque sou adulta não tenho medos? Ter até tenho, mostrá-los é que já é mais chato... Isto de obrigar os outros a reverem as suas fraquezas em nós é, no mínimo, incómodo. Para todos.
Quem sou eu agora? Não sei. Mas desconfio que está mais que na altura de me redefinir...