dezembro 20, 2006

Neurónio congelado

Há aqueles dias fervilhantes de tarefas e coisas para fazer.Depois há os outros...
Mornos, que escorrem devagar, sem vontade própria, tal qual as pinturas de Dalí.
Ontem, foi um desses dias.
Tudo se arrasta, languidamente... São de um torpor mental, doloroso até! Consegue-se estender o dia à infinitude do congelamento cerebral...
Estes dias são cães pachorrentos... Para dormir e vegetar!

novembro 19, 2006

É um facto: as pessoas que vivem coisas boas que vale a pena preservar, são infinitamente mais vulneráveis que as outras.
Não é preciso ser-se feliz (um estado de alma relativo e cada vez mais vazio de significado, dada a miríade de pequenos problemas que nos infernizam o dia-a-dia e nos impedem de termos uma perspectiva global de nós mesmos e de irmos mais além no nosso próprio contentamento).
Basta prezar-se algo e ter-se medo de o perder.
Quem receia magoar os de quem gosta, perdê-los, decepcioná-los; quem faz questão de trazer a sua existência nas palminhas, a tratos de polé - quem se acha, afinal, com uma sorte danada, apesar de tudo -, acaba por ser um alvo fácil.
Ter amigos e família, ir a festas, fazer festas, fazer mais amigos, ter paixões e marido (ou mulher), ter paixão pelo marido (ou pela mulher), pelos amigos, pelos filhos e pela casa (pelo sofá branco da casa), pelo cão.
Ter a felicidade de ter pai e mãe vivos e disponíveis, e ter irmãos e primos.
Não ter medo nem vergonha de se mostrar como é, nem o que quer ou do que gosta, muito menos aquilo a que aspira e o que mais a incomoda.
Tudo isso lhe confere uma fragilidade imensa, de sopro de vela.
Amarmos outros, e amarmos a presença dos outros na nossa vida, é como ficarmos com o organismo a modos que indefeso, imunodeficiente e mais sujeito a dores, a incómodos, a doenças.
Porque ficamos à mercê das investidas virulentas de quem nada receia porque nada tem a perder.

Por "Escrito na Areia por Vieira do Mar", no blog www.controversamaresia.blogspot.com.
Muito, muito obrigado por teres expresso o que para mim, por vezes, se afigura inexprimivel...

novembro 17, 2006

novembro 10, 2006

Não me desiludiste. Nem sequer posso dizer que nunca esperei que tudo fosse assim... Acho que é o vazio que me transforma... Já não sou quem era.
Também nunca pensei conseguir reduzir-me a uma frase tão banal: já não sou quem era.
Que queria eu afinal? Sempre me haviam dito que as pessoas mudam com a idade. Tornam-se adultas.
Adultas. Que máscara e esconderijo para poupar os outros das nossas próprias inseguranças. Lá porque sou adulta não tenho medos? Ter até tenho, mostrá-los é que já é mais chato... Isto de obrigar os outros a reverem as suas fraquezas em nós é, no mínimo, incómodo. Para todos.
Quem sou eu agora? Não sei. Mas desconfio que está mais que na altura de me redefinir...

outubro 31, 2006

Adeus...

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
E o que nos ficou não chega

Para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,

Gastámos as mãos à força de as apertarmos,

Gastámos o relógio e as pedras das esquinas

Em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro,

Era como se todas as coisas fossem minhas:

Quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.

E eu acreditava.

Acreditava,

Porque ao teu lado

Todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,

Era no tempo em que o teu corpo era um aquário,

Era no tempo em que meus olhos

Eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade,

Uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor,

Já se não passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

Tenho a certeza

De que todas as coisas estremeciam

Só de murmurar o teu nome

No silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

Não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.


Eugénio de Andrade

outubro 25, 2006

Bolas!
É que a solidão incomoda. Faz brotoeja aqui na zona dos rins...
Uma pessoa que não toma café e não desanuvia o cérebro há mais de três dias, decerto que está prestes a encubar uma neurosezinha... Só pode!
Caso para dizer:
Olh'ó tique! Olh'ó tique!

Veinte poemas de amor y una canción desesperada...Poema 20...

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: «La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos».

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.


Pablo Neruda

outubro 24, 2006

Hoje...

Hoje ainda não me apetece dizer nada... Pronto!
Pode ser que amanhã esteja com a veia literária mais animada...
Há dias assim, um fastio!